segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

Crônica: E tal que fedia.


Atrasado para chegar ao trabalho, corri atropelando algumas pessoas que caminhavam tranquilamente, provavelmente aquelas que acordam no horário, tomam um café bem nutritivo e estão pouco se lixando com os pi pi pi que o trem emite antes de fechar a porta.

Mas eu não sou assim, coloquei uma perna dentro do trem exatamente quando a porta estava fechando. Normalmente todo mundo olha com a cara feia para quem faz isso. Aquela cara de quem diz "filho da puta, o mundo inteiro parou por sua causa."

Porém dessa vez ninguém me lançou nenhum olhar, e assim que a porta fechou, eu fiquei encarando todo mundo, esperando a velha cara de quem diz filho da puta.
Fiquei carente do xingamento facial e confuso, pensei que estava sonhando.

Se eu não estava sonhando, então tinha algo estranho, existia um espaço enorme no vagão onde eu estava, as pessoas estavam todas amontoadas no corredor, longe da porta... E algumas mulheres estavam tapando o nariz, o restante fazia aquela cara de nojo. Não estava entendendo, até minas narinas serem atingidas por um soco do capitão fedido.

Meu Deus, o que era aquilo? Um fedor azedo bem desgraçado. Não era chulé ou futum. Mas sim a mistura dos dois, combinado com um cadáver cheio de salgadinho sabor queijo no bolso.

Por falar nisso, deveria existir uma placa: Proibido comer Cheetos aqui! Igual de fumar. Porque essa porra de salgadinho fede muito em lugares fechados.
Mas enfim, o autor de tamanho gás do satanás, era um homem encostado na porta. E ele estava tranquilo ali junto com seu fedor fedorento fedendo tudo.
E era impressionante a indiferença do homem fétido. Estava tranquilo lendo a coluna esportiva do jornal, e o mau cheiro era tamanho que tive a impressão que as pessoas das fotos no jornal, estavam tapando o nariz.

Ninguém é claro teve a presença de espírito de falar com o tal homem, até mesmo porque, considerando a situação, o que ele poderia fazer? Usar o extintor como desodorante? Pular da janela?

Melhor deixar o fedor entretido na leitura, vai que se mexer fede mais.
E se eu não estivesse na cena, até que seria engraçado ver pessoas se espremendo no corredor, as mulheres tapando o nariz e fazendo cara de "vou vomitar"

Os homens sendo machões para cima do cheiro e fazendo de conta que não tinha nada fedendo...
Mas eu estava ali também, sentindo aquele azedo arder no meu nariz e convertendo minha respiração em um sacrifício.

E então, eis que o maquinista livre da câmera de gás, anuncia que o trem está em velocidade reduzida... E o fato, é que se o puto não tivesse avisado, ninguém ia perceber, mas bastou o aviso para que a próxima estação ficasse de repente tão, mas tão distante.

Foi aí que os protestos iniciaram, sinceramente não sei o que a coitada da mãe do maquinista tinha com a história...
Foi no meio de tantos dizeres, que um indivíduo resolveu testar a teoria de que se mexer na merda ela fede mais:

- Vai te catar senhor, não toma banho não!
Ai já sabe o resto né? Basta um gritar que todo mundo quer aproveitar e falar também.

- O senhor é um imundo!
- Não tem chuveiro em casa?
- Sai do trem fedido.
- Vai se foder carniça.
- Porco!
- Pessoal respeitem ele.
- Vai se lavar filho da puta.
- É um ser humano! Parem com isso!
- Nojento!!!

E foi ofensa e algumas vozezinhas de proteção ao senhor fedido.
Eis que então o senhor fedido abraçou o jornal com medo e começou a dizer triste:
- Eu não tomo banho porque já faz tempo que não chove. Pulei a catraca para pedir dinheiro e poder pelo menos tomar água hoje.

Faltou aquela música triste do Chaves, mas mesmo assim os narizes ficaram sensibilizados com a história do fedor humano.
Porém tudo deveria acabar aí. Só que então a voz triste do homem transformou se em voz desafiadora dizendo:
- Posso muito bem seguir viagem com os senhores até o terminal, mas se na próxima estação eu tiver uns 100 reais, juro que desembarco na próxima...
Foi sem dúvida o pedinte que mais arrecadou dinheiro em questão de 5 minutos.

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quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Rascunho: Estado de inexistência.


Tudo perde o foco,
o vestígio de luz é um borrão.
Vários sons se misturam,
não dá pra discernir o que se ouve.

Por um instante,
o calor percorre cada parte do corpo.
O corpo pesa,
e oscila na pele entre quente e frio.
Dá arrepios.

A respiração é única coisa que se tem noção.
E então de súbito, pânico!
Mas o medo para na garganta,
curiosidade e conforto ao mesmo tempo.

O escuro como nunca visto antes,
domina as pálpebras.
Silêncio tão profundo,
que afeta os ouvidos.
Não existe calor e nem frio, não se sente à respiração.
Qualquer vestígio de emoção, desvanece.
É como entregar-se de vez
e afundar no misterioso vazio.
Não existe força, ou vontade de reagir.
Não existe mais noção do escuro e silêncio
O tempo para ali. Nenhuma sensação é descritível
e nada mais existe, além do próprio observador...

Escrito: 16/01/2009 Por: Fernando do Amaral 

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quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

Pensamento: Crítica, crueldade e espelho - A contemplação do ego.


Vídeos, filmes, youtube, textos, opiniões....
Que aspirações essas em desejar tudo perfeito?
Criticar tudo e todos como se conhecesse um mundo em que a roda não precisa do freio.
Julgar é o comportamento humano mais fácil, mas justificar o julgamento de forma racional e sem o ego é uma tarefa árdua.
Tão árdua que quem sabe fazer, não o faz, mantém silêncio e deixa acontecer a confusão.

Como detesto quem exala a perfeição impraticável como se tivessem a idade da terra.
E que medo tenho do ponderador silencioso, com o olhar ingênuo e semblante passivo.
Não existe nada mais belo do que cada um vê em sua própria mente.
E não tem acabamento melhor do que cada alma anseia.
Não existe justiça tão justa do que o próprio juiz interno de cada um.
É por isso que o defeito é uma constante de tamanho indefinido.
São tantas as indagações para enquadrar o que é justo, como se existisse simetria para tudo.
Uma receita para atingir o perfeccionismo, e quem precisa de tal receita senão aquele que não quer levantar desagrado?
Que pena tenho eu, de quem vive para agradar terceiros. Os outros serão falsos e não cruéis.

E a crueldade sim é perfeita. Ela é a verdade sem vacilar em ser.
Ela é o que é, sem meio termo.
O pouco cruel e o muito cruel, são ambos cruéis sem medidas.
Ela não tem medo de estraçalhar, de impor, desmascarar e fazer sofrer.
A crueldade é pesada, não deixa dúvidas da sua presença.
É autêntica e faz qualquer ego perfeito implorar por compaixão...
O crítico cruel é como um deus sem amigos que não sente prazer na vida. Nada pode o agradar, porque ele usa a realidade incontestável como parâmetro para o completo.
Tão tarde descobrirá que é incompleto, triste e tedioso.
Mas mesmo assim eu respeito o crítico cruel, porque ele sabe como as coisas são e não como deveriam ser. O que não gosto é daquele que almeja a melhor forma e nada sabe de coisa alguma. Vê a verdade nele mesmo para mudar o mundo, mas dentro de si existe uma trava que o impossibilita de mudar seus próprios defeitos.
Mas a crueldade pode fazer o mundo perfeito? Pode parar a inquietação na mente humana? Pode ser o quadro perfeito que cada um crie de si mesmo?

Não, não pode, o cruel só derruba o pano, mostra a carne por baixo da pele.
Mas a perfeição idealizada é conflitante e irreal... E na maioria das vezes ridícula.
Tem quem goste que o mundo gire no sentido anti-horário, a outros que preferem que gire no sentido horário e ainda aqueles que querem que não gire. E independente do querer ardente de cada alma, o mundo gira.

Olhar para o outro é como olhar para um espelho embaçado e sujo.
Olhar para si é como recolher os cacos quebrados do espelho.
Olhar para o mundo é como admirar um cenário confuso, que hora te deixa grande ou pequeno. Distorce a contemplação virtual, e mostra a realidade.

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segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Discussão - Ler livro x Ouvir música.


Será que a música pode atrapalhar a leitura?
Existe quem faz uma lista de música, para ler livros?

Você já andou por ai de transporte público, e percebeu alguém com fones de ouvido devorando um livro. Talvez até em algum lugar sem muito barulho. Talvez esse alguém seja você mesmo.

Mas, e a concentração?

É compreensível que usar fones de ouvido com um som, ajude isolar o leitor dos barulhos paralelos: conversas, celulares alheios tocando Mc-Alguma-Coisa, camelôs gritando promoções, e etc...
Porém, se a o barulho ambiente atrapalha, pode ser que a música também.

No meu caso, prefiro os fones. Mas não rádios, e sim minhas músicas que selecionei e conheço.
No começo foi estranho, tentava ler um parágrafo enquanto a música desviava minha atenção, principalmente quando a leitura estava criando um cenário.
Percebi que se eu já conhecia a música, não me concentrava nela e sim na leitura, e o som passou a funcionar como uma isolante. Bem melhor do que outros sons imprevisíveis, que interrompem uma boa leitura.
Mas têm pessoas, que entram na leitura de um jeito, que não percebem nem um ciclone, caso aconteça.
Não sou assim, o barulho dispersa a leitura. Tanto que o melhor horário para ler, é de madrugada.
Voltando a realidade, é difícil hoje em dia para quem trabalha ou estuda reservar um horário e local tranquilo para desfrutar de uma leitura. A saída para muitos, é ler durante o trajeto para os compromissos diários.
E ai já viu. É barulho para tudo quanto é lado.
Teve um dia, estava eu lá lendo a Torre Negra do Stephen King e um indivíduo entrou no trem com um pandeiro. Daí ele mandou um samba-de-trem-sem-fim, para ganhar uns trocados. E minha salvação foi usar os fones.

Outro problema. Um filme tem trilha sonora, mas não tem como um livro ter trilha sonora. Como saber o momento triste do livro para colocar uma música dramática?
E tem situações que não se encaixam, imagine, por exemplo, ler o diário de Anne Frank ouvindo Danza Kuduro... Tá! Peguei pesado agora...

O que funcionou para mim, foi ouvir músicas instrumentais de vários gêneros ou música clássica.
Ajuda a concentrar, dá uma isolada e com o tempo, a leitura transcorre como se não houvesse nada tocando no fundo.

Outra dica que funciona e para muitos pode ser até melhor, é usar do ruído branco.
Porém, a tarefa do ruído branco é neutralizar sons indesejados. O resultado pode ser literalmente, uma viagem no livro.

Quando testei o ruído branco, usei o barulho da chuva, (particularmente, gosto de ler ouvindo a chuva cair.) e estava eu lá sentando no banco do metrô, lendo o Siciliano de Mario Puzo e entrei na história de tal forma, que não existia metrô, estações, pessoas... Enfim não existia nada a não ser a história. Resultado? Deixe oito estações para trás...

Você lê enquanto ouve? Qual som indicaria para ler?
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domingo, 24 de novembro de 2019

Eu li : Rebeca - Alguns não pecam por nada

Rebeca.

Livro: Alguns Nao Pecam por Nada.
Autor: Marco Buzetto.

Não contém spoilers.

A personagem Rebeca projeta em si mesma, tudo o que julga errado na sociedade.
Faz isso como uma forma de proteção, ela não quer ser vítima de ninguém, mesmo que para isso signifique ser vítima dela mesma. Uma jovem confusa, cheia de conflitos e chata, do tipo que usa a própria vida desenfreada para julgar os outros.

Leitura papo cabeça.
É possível se identificar com algumas opiniões da personagem, que são muitas.
Nos diálogos existem muitas frases de efeitos interessantes. Dever ler sem pressa para absorver melhor a ideia de cada capítulo.

A escrita tem uma influência brasileira muito grande. Ponto positivo já que existe uma tendência muito grande dos novos autores distanciarem do sul e se aproximarem mais do estilo norte americano, por conta dos best seller e filmes hollidianos. Confesso que esperava por termos de baixo calão. O autor optou por uma escrita mais comedida.

Rebeca é um livro caótico, denso, ruim de ler difícil de acompanhar e cansativo, e isso quem diz é a melhor amiga de Rebeca.
É um livro que aborda a filosofia e tem como fundo muito sexo é muita bebida alcoólica. A personagem principal é uma espécie pensadora ninfomaníaca, que critica duramente os costumes conhecidos como corretos. O sexo para ela tem várias formas, e nenhuma forma é imoral. Para ela imoral são as pessoas que não pensam e são escravas do falso moralismo. Existem alguns momentos que a personagem causa uma certa repulsa proposital no leitor, mas no final da leitura, ela se justifica de forma sincera e transforma o ódio em um sentimento pobre e sem sentido. É muito interessante a ligação entre sexo prolongado e os longos questionamentos na mente de Rebeca, como se uma coisa completasse a outra. Existe aqui uma espécie de quebra da quarta parede, em que a personagem sabe que é uma personagem e questiona quem se atreveria escrever sobre ela.

Rebeca é definitivamente uma experiência interessante.

Aqui, você poderá degustar um pouco dessa experiência!

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Rascunho: Eau de Vie.

Eu vejo pessoas indo para o trabalho.
Parecem formigas sem formigueiro.


Era assim em um céu escocês...
Mas que devaneio!
Sou um paulista na estação da Sé ouvindo Nazareth.

Peguei uma garrafa de whisky
e sai pisando no asfalto molhado.
Não era dia nem noite,
mas uma tarde que parece não ter fim.

Vi as pessoas passando por mim,
elas tinham medo da minha jaqueta,
do meu whisky, da minha calça surrada...
Elas comentavam alguma coisa,
sussurrando moralidade entre elas.
Mas quando elas chegam em casa,
vão assistir um filme ou novela,
com personagens iguais a mim.

Eu só quero encontrar alguém para conversar. 
Esperar a madrugada fria de sábado
ao lado de uma mulher.
Ela não precisa ser bonita,
mas sim boa de cama e de papo interessante.

Sabe como é?
Transar e depois falar de coisas que muitos evitam?
Talvez por uma noite, viver.
É tão bom viver assim, que quase posso viciar.
A futilidade hoje, me faz feliz.
E ser feliz é não ter que explicar nada.
Nada precisa ser para sempre
e sempre não precisa ser realidade.

Dias assim que vem e vão,
não precisam de complicação.
Só uma boa dose de qualquer coisa destilada.
Eu sopro uma fumaça e vejo formar uma cortina.
Aqui onde estou o mundo é engraçado.
Mas então lembro que preciso voltar.

Eu vejo pessoas indo para o trabalho.
Parecem formigas sem formigueiro.
Alguns com semblante de gado,
outros com cara de carrasco.
E elas me olham com repulsa.
Odeiam minha jaqueta,
minha calça suja e minha garrafa de whisky.

Sentem nojo de um rosto despreocupado às sete.
Que mundo é este em que ser normal,
é viver de forma estranha?
Que mundo é este em que o anormal,
é apreciado somente nas telas de ficção?
Não sou escravo do antagonismo,
e viver deveria ser gratuito.

Escrito: 29/04/2012 Por: Fernando do Amaral 

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quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Rascunho: Identidade

"A expectativa dos outros sobre mim, é pesada demais para carregar."



O que sou,
senão um personagem de mim mesmo?
Quem eu interpreto em um dia qualquer?
E quão bom ator, eu sou nos dias especiais?

A expectativa dos outros sobre mim,
é estranha e pesada demais para carregar.
É um termo de responsabilidade que nunca assinei.
Nem sempre posso falar a verdade, ou agir diferente.
Terá alguém que me julgará.

Posso não me importar com o que pensam
mas isso não funciona quando existem laços.
E em prol da paz faço uma encenação,
sem direito a troféu.

Às vezes, quando estou sozinho,
reflito como tudo seria diferente,
se ao menos uma vez eu matasse meu personagem.

Meu personagem, é um hipócrita
que agrada quem gosta de etiquetas.
Meu personagem, é uma expectativa para outros.
Amigos, família, conhecidos, trabalho...

Mas o dia em que meu personagem não for educado,
tolerante, simpático e esquecer a polidez...
O dia em que não agradar meus laços,
então não interpretarei bem. Não serei um bom ator
e os espectadores criticarão duramente.

Se em uma situação inconveniente eu falar:
- Ah, Vá se foder!
Pronto, estou demitido do meu papel.
Entre vários defeitos, sou até mesmo bipolar.
Matei meu personagem.

Escrito: 11/12/2013 Por: Fernando do Amaral

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terça-feira, 5 de novembro de 2019

Rascunho: O criador é carente.

A criação.


Existe um vazio tão grande aqui.
Por que existo senão para ocupar o vazio?
Mas não justifica minha existência.

Eu preciso de alguma coisa,
que exista por minha causa.
É excitante contemplar uma obra
e saber que ela só é possível por mim.

Preciso criar algo, que seja minha imagem.
De que serve a importância do meu ser no vazio?
Quero dar a forma para algo, modelar uma ideia.
Tornar real aos sentidos uma imaginação.

Preciso projetar minha essência no ambiente.
Quero paralisar a minha necessidade no tempo.
Ser perfeito em minha obra, e dela captar satisfação.

Talvez o que eu criar seja ilusão,
difícil de compreender, pouco aceitável.
Irrelevante para a evolução
e não me satisfaça tanto quanto idealizo.

Mas não será mais vazio,
terei o que observar e me sentirei especial.
Definitivamente, jamais sozinho.
"Quanto maior a criação, maior a solidão do criador”.


Escrito: 29/10/2012 Por: Fernando do Amaral

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