terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

Crônica: Chute na cadeira, hot dog e pizza.



Lá estava eu, no final da aula olhando as diversas barracas de cachorro quente e escolhendo em qual comer. Minto, na verdade eu não estava escolhendo nada, e sim meu exigente nariz quem procurava por um aroma melhor temperado, ignorando no processo, as insistentes reclamações de um estômago irritado e faminto.

Vi uma cadeira convidativa e a sua volta alguns alunos, que olhavam para a mulher da salsicha como se ela fosse uma internet 3G em um smartphone preste a esgotar a bateria. Pedi licença para aqueles que já foram atendidos e estavam esperando. Lutei contra a impertinente saliva, que inexplicavelmente sempre surge na hora de fazer um pedido. Saiu algo do tipo: - Me vê um cachorro quente completo, com duas salsichas.
Duas salsichas saem cuspidas, a coitada da atendente até disfarçou e limpou meus perdigotos.
Eu não sei explicar o motivo, mas a união fome e pedido de fast food, ativam a produção instantânea de salivas.
Sentei e esperei. Esperar é uma espécie de medir forças contra o estômago. O corpo todo luta contra ele. As pernas e braços ficam agitados, a cabeça balança de um lado para o outro exibindo olhos bem abertos e atentos, mas que não estão focando em nada. Pior quando tem alguém esperando junto, e o infeliz começa a conversar para passar o tempo. Mas é ai que não passa mesmo... Cada palavra da pessoa, demora uma hora. A pessoa tá ali toda empolgada contando alguma história, e o pensamento está no molho escorrendo sobre o purê. Uma vez cometi uma gafe. Meu amigo perguntou algo relacionado com a nota errada dele, e eu respondi cebola empanada com pimenta.

E então ali estava eu parcialmente paciente esperando, quando três caras surgiram do lado da barraca, armaram uma mesa com cadeiras, colocaram um baú em cima e um deles começou a berrar:
- Pizza de calabresa e mussarela!
Não é uma frase muito legal para um homem faminto ouvir, existe aquela sensação que o estômago vai virar um buraco visível para todo mundo.
Mas eu estava esperando meu dogão turbinado, então...

Porém saiu da barraca de cachorro quente um senhor já de idade. Perguntei-me onde diabos aquele senhor estava escondido dentro da pequena barraca.
- Vocês são muito cara de pau. Sumam daqui! – Gritou para os três jovens.
- Mas eu não vou roubar seus cliente. Estou vendendo pizza e não pão com salsicha! – Respondeu um deles.
- Aqui é meu ponto! – Disse o senhor dando uma bela botinada na cadeira e no rapaz.
- Que isso senhor? Absurdo! Não precisa de violência... – Argumentou o botinado.
- Fora daqui! – Gritou o velhinho preparando a coluna para um novo chute.
Os três caras irritados foram ao mesmo tempo contra o velhinho, pedindo para que ficasse calmo e que iam embora.
Mas o velhinho estava na pegada para chutar as pessoas, e na fúria ele deve ter entendido algo do tipo: - Vem pro pau velhote! – Isso porque ele voltou para a barraca e tirou dela uma estúpida barra de ferro, daquelas que usam para espantar urso russo.
Ele correu para cima dos vendedores de pizza. Não acertou ninguém, cada um desviou como pode.
Mas então eis que aparece um cara muito parecido com o tropeço da família Addams, pega os três pobres caras com uma só mão e diz:
- Vocês estão abusando de um senhor de idade? É isso que estou vendo?
- Eu só queria vender minha pizza. – Diz um com voz chorosa.
- Nós já vamos embora... – Responde o outro.
- Eu nem queria vender nada mesmo. – Diz o outro.

Sei que eles foram embora, sei que foi uma confusão muito confusa... Sei que mais tarde pensei que nunca tinha visto ninguém vendendo pizzas na rua.

E eu? Bom, eu comi o dogão mais legal da minha vida, assistindo essas coisas que só quem está na rua vê. E digo mais, por causa da confusão, erraram meu pedido e me deram uma coca-cola sem eu pedir.
CLARO! Honesto que sou, paguei somente o cachorro quente e fui embora.

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